Desespero e isolamento, um retrato do país

Cinema: “Lobos”, filme de José Nascimento sobre desespero e isolamento, um retrato do país

 cartaz
Lisboa, 24 Fev (Lusa) – O realizador José Nascimento estreia em Março a sua terceira longa-metragem em vinte anos – “Lobos” -, um filme sobre o desespero e o isolamento e que é ao mesmo tempo o retrato de um país adiado.”Lobos”, que chega aos cinemas a 13 de Março, tem argumento de Alberto Seixas Santos e José Nascimento, e interpretação de Nuno Melo, Catarina Wallenstein, Francisco Nascimento, Maria João Luís e Vítor Norte.É a terceira longa-metragem de José Nascimento, 60 anos, depois de “Repórter X” (1987) e “Tarde Demais” (2000).”Lobos” parte de um crime cujos contornos não são totalmente explícitos e da fuga de Joaquim e Vanessa, tio e sobrinha, da casa onde tudo aconteceu.

O filme acompanha a fuga de ambos, de carro e a pé, ao longo da qual vão entrando outras personagens, como o filho que Joaquim desconhecia, antes de emigrar para França.

“O que mais me interessou foi o sentido da fuga e do isolamento daquele homem [Joaquim], que tem um passado confuso, que não se conhece a si próprio e que, quando começa a ter consciência de si, é confrontado com o disparate da sua própria vida”, afirmou José Nascimento em entrevista à agência Lusa.

Rodado no norte do país, o filme termina na Serra da Estrela, num cenário inóspito e duro, marcado pela neve e pelo frio, que, segundo o realizador, remete para a ideia de isolamento e de fuga que atravessa toda a história.

O filme chegou a chamar-se “A monte”, título mais óbvio e directo para a história, mas José Nacimento acabou por escolher “Lobos”, porque ser um animal “que se afasta das povoações, se isola e é marginal”.

“As próprias personagens funcionam quase como lobos que saem de si próprios”, sublinhou o realizador.

Tal como dos seus outros filmes, José Nascimento diz que “Lobos” é um retrato dos portugueses e de “um país adiado”.

“Há uma espécie de ausência nossa em resolver os problemas. Somos muito dinâmicos até certo ponto e depois começamos a fazer disparates e desistimos”, diagnosticou o realizador, estendendo este cenário à relação dos espectadores com o cinema português.

“A resposta do público em relação ao cinema é ‘não quero ver cinema português, não me quero identificar com uma coisa dolorosa'”, disse José Nascimento.

O realizador admite que o seu cinema não é agradável, “é de conflitos”. “Esta – vincou – é a minha forma de interpretar as histórias. Não tenho nada esse lado da fuga ligeira, da superfície”.

Já lhe chamaram o “homem-sombra do cinema português” por só ter rodado três longas-metragens, mas o seu trabalho vai para lá dessa estatística.

Fez documentários, realização para televisão, montagem para outros realizadores e está a trabalhar actualmente com os Rádio Macau.

“É irrelevante se fico ou não na sombra. Não sou muito de entrar em partidos, grupos de pressão, lobbies”, garantiu.

É um risco que assume, sem fazer concessões e cedências e é por isso que filma tão pouco e alguns dos seus projectos ficam apenas no papel. Lamenta: “Tenho liberdade para filmar, quando me deixam filmar, quando me aprovam os projectos”.

Apesar de só se estrear em Março, “Lobos” terá uma antestreia terça-feira no cinema Monumental em Lisboa.

SS.

Lusa/fim

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