BRISA SOLAR de ANA PISSARA E JOSÉ NASCIMENTO, 76′, 2020, PORTUGAL.
Moçambique, 1974. O nome europeu da capital Lourenço Marques foi apagado e substituído por Maputo. Depois da Revolução dos Cravos em Portugal, a cidade moçambicana “passou para a mão do povo” e os novos habitantes, que tomaram a cidade dos brancos, levaram para a cidade uma cultura rural. Entre a delicadeza e o apocalíptico, “Brisa Solar” revela os pequenos segredos de uma cidade africana que nasceu de um sonho modernista, que protagonizou uma revolução e que vê hoje o seu valor patrimonial e cultural ameaçado pelo capitalismo chinês.
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Ainda na mostra competitiva, subjacente ao tema das cidades planejadas, encontra-se invariavelmente a discussão em torno do caráter colonizador implicado em sua construção. Brisa solar, longa metragem português, discute como a construção de Maputo, a capital de Moçambique, esteve ligada, no período colonial tardio do século XX, à atuação de arquitetos portugueses. O processo descolonizador, no entanto, permeia o cotidiano não apenas na medida em que as arquiteturas e as histórias de seus arquitetos são apropriadas pelas narrativas pessoais dos moradores, como referências de vida e memórias afetivas, mas, principalmente, porque a atualização espontânea pelo uso transforma – e ao mesmo tempo preserva – os edifícios e o próprio conjunto da cidade.
ANDRÉ COSTA