CASA FLUTUANTE * Nos Cinemas !

CASA FLUTUANTE * Nos Cinemas !

Portugal 2021 – Duração 110’

O argumento CASA FLUTUANTE escrito com Ana Pissarra, nasceu de várias confluências temáticas, como a Viagem Philosophica de Alexandre Rodrigues Ferreira e foi um longo processo de investigação em torno de uma personagem com identidade ligada a uma relação íntima com o rio. Inspirada na avieira que conhecemos em 2017, Margarida nasceu e cresceu dentro de um barco nas margens do Tejo e manteve com o rio uma relação de sessenta anos que se transformou quando as câmaras do Ribatejo desalojaram os avieiros e destruíram as casas palafitas ribeirinhas.

A cultura avieira tem um forte paralelismo com os povos indígenas que habitam as margens do rio Amazonas e foi desta confluência que nasceu a personagem Araci, índia e emigrante, um corpo deslocado com quem o português Inácio construiu um lar nas margens do Tejo, na primeira versão e depois no Guadiana na versão final.

Araci reinventa à sua volta um microcosmo onírico onde verá crescer a neta Joana mas que lhe fecha o futuro. Se por um lado a herança cultural que lhe transmite não a integra na comunidade alentejana, por outro, o rio já não tem peixe e a permanência da casa flutuante na água vai ser ameaçada pelo poder local. A chegada de uma terceira personagem, Xavier, que emigrou com os pais para a Alemanha e que regressa à procura das raízes familiares, vai fazer emergir o conflito de Joana.

Também o romance “A Jangada” de Jules Verne sobre a Amazónia expõe um continuum de destruição da floresta Amazónica do séc. XIX ao XXI, e revela a personagem Minha, neta de um fazendeiro colonialista português, com quem Joana se idealiza nos sonhos.

A região de Mértola pareceu-nos o lugar ideal para fazer o filme: tínhamos o rio e as azenhas, locais ideais para estabelecermos a casa flutuante de madeira – universo identitário de Araci; a casa abandonada de Inácio e as minas de S. Domingos, onde ele tinha trabalhado antes de emigrar e a casa senhorial mandada construir por um emigrante brasileiro, que serviria de décor à personagem de Adriana e que hoje faz parte do património municipal.

Para dar corpo à personagem de Araci, veio do Brasil a Carolina Virguëz, actriz premiada pela Associação dos Produtores de Teatro, cuja inteligência e sensibilidade criou de imediato uma cumplicidade inspiradora para muitas das cenas do filme e que se estendeu de forma contagiante sobretudo aos actores mais jovens, a Inês Pires Tavares e o Bernardo Mayer. Depois, a Carla Maciel, que deu corpo à personagem de Adriana com grande generosidade e mestria e o Vítor Norte, com quem já tinha trabalhado em Tarde Demais e Lobos. Finalmente o Gustavo Sumpta, também ele vindo do filme Tarde Demais, que aqui representa a personagem de Leo, um pescador.

Depois tive apoios fundamentais: a Ana Pissarra na direcção de Arte, o João Santana na direcção de Produção, o Aurélio Vasques na Fotografia, o Flak na Música e obviamente toda a equipa que constitui a base que permitiu que o filme fosse rodado em poucas semanas, organizado quase totalmente em planos fixos, de forma a respeitar o mapa de trabalho. Com o José Mazeda, todo o processo que culmina com a apresentação do filme.

Para as cenas na Amazónia, tínhamos inicialmente centrado a pesquisa na comunidade Ticuna, mas depois das políticas de Bolsonaro a comunidade indígena recusou-se a receber a equipa de filmagens, como forma de protesto político e de resistência. Com o apoio da FUNAI, abandonámos a ideia de filmar no norte do Brasil e descemos para Cruzeiro do Sul, no Acre, terra dos Puyanawa, comunidade que procura recuperar a sua cultura e identidade, destruídas desde os primórdios do séc. XX, após terem sido expropriados por um Coronel proprietário do Seringal Barão do Rio Branco e escravizados na extração de borracha.

Em Rio Branco encontrámos várias áreas de floresta queimada, que foram décor do filme. No avião de regresso a Brasília confirmámos a existência de várias frentes de fogo no meio do verde – a floresta não pára de arder…

CASA FLUTUANTE é dedicado à Floresta Amazónica, às comunidades indígenas que lutam pela sua preservação e a todos que com ela mantêm uma relação de amor.

Previous post CASA FLUTUANTE * Antestreia a 2 de Março na Cinemateca
Next post “Tarde Demais”: terror trágico-marítimo