Jorge Leitão Ramos sobre Silêncios do Olhar

Jorge Leitão Ramos sobre Silêncios do Olhar

EXPRESSO/REVISTA E – 25 de NOVEMBRO de 2017

NOTA

3 estrelas
SILÊNCIOS DO OLHAR
de José Nascimento (Portugal)
Documentário

José Álvaro Morais foi um realizador português que construiu uma obra, a um tempo fascinante, enigmática, pontualmente secreta e, em simultâneo, de uma exuberância surpreendente, fazendo conjugações entre poesia e hedonismo, sangue e sexo, o cinema-espectáculo e o cinema cadinho de coisas indizíveis. Morreu em 2004, demasiado novo (60 anos) deixando uma filmografia breve (apenas três longas-metragens de ficção e outros tantos títulos de diversa textura) que quase se perde no horizonte que outros vultos mais grados dominam. Mas toda a gente que se aproximou intimamente do cinema português no último meio século sabe que o lugar que ele ocupa é essencial e inamovivel. E todos os que o conheceram de perto não esquecem o galhardo príncipe que era. Não o esqueceu José Nascimento, seu companheiro de geração cuja voz, um dia, foi a do Zé Álvaro na breve aparição que faz em “O Bobo” e que agora volta a dar-lhe voz na ousada primeira pessoa em que “Silêncios do Olhar” acontece. O realizador foi a várias entrevistas, fez uma hábil montagem de fragmentos e construiu uma narrativa bio-filmográfica que quase parece confessional. Foi ainda ouvir alguns cúmplices dos filmes de Morais, atores sobretudo, recolher documentos de época, mas o melhor deste documentário de José Nascimento é a forma como texto, documentos e depoimentos se interligam com as sequências dos filmes e a beleza quase de rompante que irradiam. Faz vontade de os tornar a ver – e isso é o melhor que um filme sobre um cineasta pode almejar. J.LR.

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